Durante uma jornada marcada por resistência, milhares de mulheres de diferentes povos originários se reuniram na capital do país em um evento sem precedentes. Foram dias de organização, trajetos longos e memórias coletivas que se encontraram no mesmo espaço para dar visibilidade à luta de quem há séculos defende o território e a vida. A reunião ultrapassa os limites de um simples encontro e se consolida como um marco na trajetória de quem sempre teve sua voz silenciada.
O impacto emocional da presença de matriarcas de diversas etnias no centro do poder nacional ecoa de forma potente. Histórias como a da idosa que cruzou mais de trinta horas de estrada ao lado da neta traduzem a força da ancestralidade e o desejo de preservação das raízes. O idioma nativo, mesmo incompreensível para muitos, carrega uma carga simbólica que dispensa explicações. O olhar, a postura e o orgulho de cada participante falam por si.
Com a participação de representantes do alto escalão do governo federal, o evento também marcou uma abertura política para escutar as demandas históricas das comunidades indígenas. O simbolismo da presença de cinco ministras no início das atividades demonstra uma tentativa institucional de acolhimento, ainda que os desafios sigam imensos. O diálogo, ainda que tardio, representa um passo importante na construção de políticas mais justas.
A diversidade cultural presente no evento revela a riqueza dos saberes e das tradições que resistem ao apagamento. Mulheres jovens e anciãs compartilharam experiências, desafios e estratégias para garantir a continuidade de seus modos de vida. Cada fala, cada canto, cada dança reforça o valor da coletividade e da união entre diferentes povos que enfrentam ameaças semelhantes.
Além da expressão política, o encontro também fortalece laços comunitários. Mulheres que nunca haviam se encontrado antes criaram vínculos e redes de apoio, trocando experiências sobre saúde, educação e segurança. Os relatos das violações sofridas por muitas comunidades foram recebidos com empatia e revolta, dando origem a propostas que serão apresentadas como encaminhamentos da conferência.
O espaço também serviu para reafirmar o papel das mulheres indígenas como guardiãs do saber e da terra. Em um contexto de constantes invasões, desmatamento e exploração ilegal, elas se posicionam como linha de frente na defesa de suas casas, da floresta e dos seus filhos. Essa postura de enfrentamento foi compartilhada por todas as presentes, gerando um sentimento de fortalecimento mútuo.
Ao longo dos dias, a programação envolveu rodas de conversa, apresentações culturais e momentos de introspecção coletiva. A espiritualidade permeou cada atividade, lembrando que a luta por direitos não está dissociada da conexão com a natureza e com os ancestrais. Essa dimensão espiritual é parte fundamental da resistência e da identidade de quem participa do evento.
A conferência segue como símbolo de esperança e mobilização. Cada mulher que voltou para sua comunidade levou consigo não apenas lembranças, mas também compromissos. Compromissos com o futuro de seus povos, com a continuidade de suas línguas, com a proteção de suas terras e com a valorização de suas histórias. A capital do país testemunhou a força de uma união que ultrapassa palavras e deixa marcas profundas.
Autor : Valentin Vasilenko